Sobre a
participação de Macapá, Mazagão e Santana no combate aos cabanos, vejamos o
relato do geógrafo Antonio Carlos:
No período de
expansão dos conflitos provocados pela Cabanagem na região, o espaço amapaense
se configurava principalmente como palcos de resistência a esse movimento
social, considerado como um dos mais notáveis de nossa história, já que foi a
única insurreição em que as camadas populares conseguiram ocupar o poder
durante um espaço razoável de tempo.
Macapá,
Mazagão e Santana, por terem sido núcleos de povoamento feitos através de
colonos deslocados das possessões territoriais portuguesas na Africa,
apresentavam oligarquias locais com forte lealdade ao Estado conservador
remanescente da Coroa portuguesa que havia se instalado no país após 1822, com
o processo de Independencia.
Essas
oligarquias, que constituíam uma minoria privilegiada, passaram a mobilizar
seus recursos e capital para o fortalecimento da resistência aos cabanos,
impondo a esse movimento duras baixas, já que
o mesmo procurava destruir as bases da dominação política e econômica
desta elite regional. Dessa maneira, Macapá e Mazagão passaram par a a história
como burgos que combateram os cabanos despossuídos em defesa da legalidade das
classes hegemônicas do Império.
Nesse
período, os franceses tentaram tirar proveito da situação de conflito e
instabilidade na região instalando uma fortificação em um dos lagos do
município de Amapá, e a partir daí passaram a dar apoio ao movimento cabano. As
ações francesas no Amapá provocaram reações da Capital (Rio de Janeiro), sendo que, como forma de
retaliação, a população começou a evitar a compra de produtos originários da
França. Diante de tais pressões, o governo Frances retirou suas tropas do Amapá
em 1841, tendo os dois países concordado em transformá-lo numa região
contestada, passando a ser administrado por um representante do governo
brasileiro e outro do governo frances. A desorganização política e econômica da
área do Contestado o tornou palco de movimentos separatistas. Um deles foi a
fracassada tentativa de independência, quando foi transformado em Republica do
Cunani (1885-1887) através de um movimento licerado por um aventureiro frances
conhecido como Jules Gross. Este ultimo fato intensificou as pretensões
francesas na área.
O
desrespeito ao acordo de neutralização por parte dos franceses, principalmente
com a descoberta de ouro em Calçoene, motivou sérios conflitos no final do
século XIX, estremecendo as relações diplomáticas entre Brasil e França.
Notas históricas sobre a reação á Cabanagem
1823
15
de agosto de 1823 – Os vereadores de Macapá e Mazagão fazem o juramento, em
obediência ao novo regime do governo imperial do Brasil, após a Independência.
Ver documento.
01 de abril de 1824 – A Junta Provisória envia circular ao governo da vila
de Macapá, fornecendo instruções que deverão ser observadas no combate aos
cabanos nessa região. Ver documento.
15
de maio de 1824 – A Junta Provisória do Governo de Santarém envia instruções
ao governador interino de Praça de Macapá, João Baptista da Silva, para serem
observadas durante o combate aos cabanos em Macapá. Ver documento.
7 de janeiro de 1835 – Felix Antonio Clemente Malcher assume no Pará um governo
revolucionário, e Bernardo Lobo de Sousa, presidente da Província, é
assassinado. Começa o período cabano. Macapá e Mazagão rejeitam o novo governo.
Alguns cabanos começam a se fixar no Amapá.
27
fevereiro de 1835 – O juiz de Direito e promotor público de
Macapá decide apoiar a decisão da Câmara do Senado em resistir à Cabanagem que
ocupou as cidades de Belém e Vigia.
19
de abril de 1835 – Reunidos, os vereadores de Macapá
decidiram não aceitar a moeda de cobre criada pelos cabanos que governavam o
Pará. Em vista disso, a guarnição da Fortaleza de Macapá não recebia seus
saldos há sete meses. Preocupado, o capitão Joaquim Romão de Almeida levou o
problema ao juiz de Direito Francisco Valente Barreto e ao promotor Estácio
José Picanço. Ver 24 de abril de 1835.
22
de abril de 1835 – Uma comissão de cinco membros, escolhidos
em sessão realizada nesse dia, apresenta à Câmara de Macapá o plano de defesa
da vila contra os cabanos. O presidente
da Província do Pará delega autoridade ao juiz de Direito Manoel Gonçalves
Azevedo para presidir a comissão, que era composta por dois capitães (Joaquim
Romão de Almeida e Francisco Valente Barreto), pelo promotor público Estácio
José Picanço e mais outros dois, para organizarem o plano. A comissão consegue
a nomeação do tenente-coronel Francisco de Siqueira Monterozzo Mello da
Silveira Vasconcellos com comandante militar de Macapá.
18
de maio de 1835 - Chega à vila de Macapá o tenente-coronel Francisco de
Siqueira Monterozzo Mello da Silveira Vasconcellos para comandar a Praça de
Macapá. Ele passa a ter, a seu comando, um reforço de seis capitães, seis
tenentes, seis alferes, um sargento-ajudante, um sargento-quartel-mestre, 103
sargentos, 205 cabos e 315 soldados.
27
de agosto de 1835 – Reúnem-se na Câmara de Macapá as
autoridades civis, militares, eclesiásticas e a população em geral, para
encontrarem estratégias de resistência aos cabanos que haviam conquistado Belém
e Vigia.
05
de setembro de 1835 – O comandante militar de Macapá, Francisco
de Siqueira Monterozzo Mello da Silveira Vasconcellos, envia circular às
autoridades e fazendeiros macapaenses, dando instruções sobre o combate aos
cabanos que já pensavam em tomar Macapá. Ver documento.
20
de dezembro de 1835 - Os cabanos que se refugiaram em Ilha de Santana são
expulsos.
01 de janeiro de 1836 – O capitão Fernando Rodrigues, comandante da 1ª Cia. da
Guarda Nacional, escreve a Jorge Rodrigues, dando notícias sobre a resistência
imperial por ocasião da Independência do Brasil em Macapá. Ver documento.
02
de janeiro de 1836 – O comandante militar de Macapá, Francisco de Siqueira
Monterozzo Mello da Silveira Vasconcellos, escreve ao governo provincial do
Pará, relatando a oferta de várias embarcações de comerciantes de Macapá, para
o combate aos cabanos. Ver documento.
12
de fevereiro de 1836 – Por ofício de nº 24, o comandante da
Praça de Macapá, major Francisco de Siqueira Monterozzo Mello da Silveira
Vasconcellos, relata ao presidente da Província do Pará, Jorge Rodrigues, que
os norte-americanos estavam dispostos a trocar armamento com gêneros
alimentícios.
28
de fevereiro de 1836 – Sai de Macapá uma expedição chefiada por
Raimundo Joaquim Pantoja para atacar os cabanos de Breves. Ver 07 de março de
1836.
7
de março de 1836 – Raimundo Joaquim Pantoja, partindo com o alferes Francisco
Pereira de Brito e soldados da praça de Macapá, chega em Gurupá (no Pará), onde
se encontram os cabanos. Ver 8 de março de 1836.
8
de março de 1836 – Combate na foz do rio Caju-Una, entre
cabanos e tropas legalistas, participando soldados macapaenses.
13
de março de 1836 – O major Francisco de Siqueira Monterozzo
Mello da Silveira Vasconcellos recebe novamente o macapaense e capitão da
Guarda Nacional Raimundo Joaquim Pantoja, que solicita mantimentos e armamentos
para o combate aos cabanos nas ilhas vizinhas. Monterozzo Acode, prestando-lhe
auxílio e providenciando armamentos.
15
de março de 1836 – O comandante da Praça de Macapá, major
Francisco Monterozzo, comunica ao presidente da Província do Pará, Jorge
Rodrigues, a presença do capataz Manoel Pedro dos Anjos, tenente-coronel
comandante dos cabanos, entre as forças que estavam alojadas no litoral da ilha
de Marajó. Refere-se ainda à vitória conseguida pelo capitão Pantoja e seu
ajudante Francisco Pereira de Brito, contra os rebeldes localizados em Curuçá e
Caju-Una.
17
de março de 1836 - Chegam à vila de Macapá as autoridades de Santarém que acaba
de cair em mãos dos revolucionários cabanos, entre elas o juiz de Direito da
Comarca de Tapajós, Joaquim Francisco de Souza. (Vidal Picanço, Estácio, Informações
sobre História do Amapá, Pág. 85).
23
de março de 1836 – O major Francisco Monterozzo comunica, em
ofício, ao presidente da Província do Pará, marechal Jorge Rodrigues, que os
cabanos haviam se apossado das cidades de Gurupá e Santarém, chegando aqui na
então vila de Macapá, as principais autoridades desses dois municípios
paraenses.
15
de abril de 1836 – Sai de Macapá uma expedição comandada
pelo alferes Brito, destinada a desalojar os cabanos do arquipélago do
Bailique. Ver 17 de abril e 29 de maio de 1836.
17
de abril de 1836 - Pelo ofício nº 34, o major Francisco Monterozzo informa ao
general Jorge Rodrigues que no dia 15 o capitão Raimundo Joaquim Pantoja
autorizou o alferes Brito, com três oficiais e 50 guardas de Portel, a saírem
de Macapá para a ilha de Gurupá, em duas embarcações, para defenderem a vila de
Portel, que se achava ameaçada pelos cabanos do Tapajós.
28
de abril de 1836 – O alferes Brito derrota os cabanos da
região de Bailique.
24
de maio de 1836 – O comandante militar de Macapá, major
Francisco de Siqueira Monterozzo, escreve ao comandante da Província do Pará,
informando do envio de documentos considerados suspeitos, aos cabanos da
região. Ver documento.
05
de dezembro de 1836 – Monterozzo escreve ao governador do Pará referindo-se a um
episódio ocorrido em 20 de novembro do mesmo ano, em Ilha Vieirinha, perto de
Macapá, onde sessenta soldados mataram 30 cabanos ali alojados, incendiando
suas casas e apropriando-se de seus pertences. Ver documento.
9 de julho
de 1839 – O comandante da Praça de Macapá,
tenente-coronel Francisco de Siqueira Monterozzo Mello da Silveira
Vasconcellos, é deposto do comando, sob suspeita de que ele favorecia aos
cabanos. Ver 29 de julho de 1839.
29
de julho – O Visconde de Souza Franco, governador do
Pará, escreve ao ministro da Guerra,
conde Lajes, noticiando o conflito ocorrido em 8 de julho, em Macapá, que
resultou na deposição do tenente-coronel Francisco de Siqueira Monterozzo, sob
acusação de favorecer aos cabanos. Ver documento.
01 de março de 1840 – O governo da Província do Pará cria a Colônia Militar Pedro
II, situada à margem direita do
Araguary. A partir desta data finda o
periodo cabano em Macapá.