No dia 12 de outubro, há exatamente 65 anos, chegam a Macapá os restos mortais de JOAQUIM CAETANO DA SILVA. Peço licença ao professor NILSON MONTORIL para transcrever o seu relato sobre o evento:
MACAPÁ RECEBE OS DESPOJOS DE JOAQUIM CAETANO DA SILVA
Nilson Montoril
“Às 8 horas do dia 17 de outubro de 1953, fundearam
próximo ao trapiche major Eliezer Levy,
os contratorpedeiros Beberibe a Bracuhi, integrantes da esquadra da Marinha de
Guerra do Brasil, que haviam deixado o porto de Belém na manhã do dia 15 do
aludido mês. A bordo das duas embarcações havia duas urnas mortuárias, uma com
os despojos do estadista Joaquim Caetano da Silva e outra contendo os restos
mortais do professor de Educação Fisica e chefe escoteiro, Dário Cordeiro
Jassé. Uma terceira urna trazia terras do município gaúcho de Jaguarão, local
onde nasceu Joaquim Caetano.
A capital do Território do Amapá despertou sob um clima de
intensa expectativa. As 8h30, a Comissão Organizadora do Monumento Nacional a
Joaquim Caetano da Silva, recebeu, no pátio de desembarque do trapiche, das
mãos do capitão de Corveta Adolfo Vasconcellos, comandante dos navios, a urna
com os restos mortais. Neste instante a Fortaleza de São José deu uma salva de
21 tiros de canhão, enquanto a Banda de Música da Guarda Territorial executava
o Hino Nacional. Nas laterais do trapiche estavam formadas alas compostas por
integrantes da Guarda Territorial, Tiro de Guerra 130, Escoteiros das tropas
Veiga Cabral, São Jorge e Marcílio Dias, Bandeirantes, Colegio Amapaense,
Escola Normal, Escola Industrial, Escola Técnica de Comércio do Amapá, Escola
Doméstica, Grupos Escolares Barão do Rio Branco e Alexandre Vaz Tavares,
Escolas Rurais das vizinhanças de Macapá, representantes dos grupos escolares
Joaquim Caetano da Silva (Oiapoque) e dos municipios de Amapá, Mazagão e
Oiapoque, clubes da capital, funcionários públicos, associações de classe e o
povo em geral.
Às 9 horas, as urnas foram colocadas em carros especiais,
receberam a continência das tropas formadas e seguiram em cortejo até a Fortaleza
de Macapá, seguidas das tropas e do povo. As ruas do percurso estavam
ornamentadas e embandeiradas, compreendendo a avenida 24 de outubro (rua da
Praia), rua Visconde de Souza Franco (Av Amazonas), Siqueira Campos (Mário
Cruz), Independência (Vereador Binga Uchoa), Coriolano Jucá, Candido Mendes) e
estradinha da Fortaleza. Essa estradinha começava na confluência da Candido
Mendes com a Cora de Carvalho e seguia em diagonal, á esquerda, fazendo um
semi-circulo pela área hoje cortada pela avenida Padre Julio e na Binga Uchoa,
até atingir um braço do igarapé do Igapó que servia de abrigo para uma lancha
da Mesa de Renda.
Em seguida, convergia à direita e se prolongava até a ponte
do que seria mais tarde o trecho aterrado da Candido Mendes, então correspondendo
a uma estreita passarela de madeira. Ultrapassava a ponte e seguia à esquerda
margeando o igarapé até o portão principal da Fortaleza. Os carros foram
empurrados mor militares e escoteiros. Às 10 horas ocorreu o ingresso do
cortejo na Fortaleza de Macapá, seguindo-se um rápido oficio católico dirigido
pelo cardeal Dom Carlos Carmelo, arcebispo de São Paulo. Em seguida, as urnas
foram instaladas na capela de São José, em camara ardente, onde deveriam
permanecer até suas transferências para o Monumento Nacional, quando ele
estivesse concluído.
Neste momento, sem conseguir conter a emoção, o governador
Janary Nunes proferiu um patriótico discurso que enalteceu os feitos de Joaquim
Caetano da Silva. Às 17 horas, houve concentração dos militares, escolteiros e
do povo, na praça onde seria erguido o monumento nacional. A solenidade foi
levada a efeito às 18 horas, iniciada com o assentamento da pedra fundamental
do monumento e seqüenciado com os discursos do professor Raul Bitencourt e do
dr. Arthur Caetano da Silva, membro da família de Joaquim Caetano. Foi
realizada a leitura do ato que denominou Joaquim Caetano da Silva a praça do
monumento, delineada pelas ruas General Rondon, Eliezer Levy, e avenidas
Presidente Vargas e Mendonça Furtado. A programação foi encerrada com uma
sessão solene da Academia Amapaense de Letras, a partir das 21 horas, no Cine
Teatro Territorial.
Inicialmente falou o dr. Barbosa Lima Sobrinho, presidente
da Academia Brasileira de Letras e depois o professora Benedito Cardoso, presidente
do silogeu no Amapá. Os participantes da sessão foram brindados com um belo
recital apresentado pelos professores e alunos do Conservatório Amapaense de
Música.
Serenados os ânimos que o civismo e o patriotismo tinham
agitado o tempo se encarregou de fazer a idéia de construção do Monumento
Nacional a Joaquim Caetano ir minguando progressivamente. Em 1956, o deputado
gaucho Flores da Cunha apresentou à Camara dos Deputados, um projeto
solicitando verbas para edificar o monumento. Na Comissão de Educação e
Cultura, o deputado Portugal Tavares emitiu um brilhante parecer aprovando-0.
Mesmo tendo merecido o referendo do plenário da chamada Camara Baixa, a verba
nunca foi liberada.
Outras tentativas ocorreram, mas sem resultados positivos. O
orçamento do Território Federal do Amapá, elaborado no Rio de Janeiro e incluso
nas verbas do Ministério da Justiça e Negócios Interiores não havia rubrica
para uma obra daquela natureza. A saída de Janary Nunes do governo do Amapá, os
acontecimentos posteriores à sua ausência e a nomeação de pessoas desprovidas
de sentimento regionalista e cívico do povo, contribuíram para relegar ao
esquecimento os despojos de Joaquim Caetano. Intregrada ao acervo do Museu que
leva o nome do ilustre brasileiro, a urna perambulou por diversos locais até
voltar para a Fortaleza.
Houve um tempo em que, esquecida na sacristia da capela de
São José, sem qualquer vigília, a urna chegou a ser profanada por elementos de
má índole. Agora, mereceu um pequeno espaço nas instalações do museu, no velho
e remodelado prédio da Intendência Municipal. Mas, a urna onde estão guardados
os restos mortais do professor e chefe escoteiro Dario Cordeiro Jassé
permaneceu na Fortaleza fazendo parte da reserva técnica do museu. A intenção
do governador Janary Nunes e dos lideres do movimento escoteiro do Amapá era o
de colocá-la no Monumento Nacional.
Essa urna não deve ficar esquecida por mais tempo. Bastam 56
aos que ela foi retida pelo poder publico, quando deveria ter sido entregue aos
familiares de Dário Jassé. Ainda é tempo de o erro ser corrigido. Sugiro que o
governo do Estado do Amapá e a Prefeitura Municipal de Macapá preparem um
mausoléu no Cemitério São José, organizem uma solenidade com a participação dos
familiares dos mortos e dos integrantes da Associação Escoteira Marcilio Dias e
deem um merecido e honroso destino a um pioneiro da educação amapaense.
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Nota: Texto introdutório publicado no jornal Diario do
Amapá, edição de domingo e segunda-feira, 11 e 12 de julho de 2010, sob o
titulo Macapá recebe os restos mortais de Joaquim Caetano da Silva, com
assinatura de Nilson Montoril de Araujo).
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