Se estivesse vivo, faria hoje (29) 88 anos. Advogado paraense com muitos anos de serviços ao Amapá, desde a fase de Território Federal, CÍCERO BORGES BORDALO nasceu em Curralinho-PA, em 29 de setembro de 1930, e faleceu e faleceu em Belém-PA, em 14 de outubro de 2012. Filho de Francisco Maria Bordalo. Bacharelou-se em Direito em Belém-PA, pela tradicional Faculdade de Direito do Estado do Pará, em 1955.
Nesse
mesmo ano foi destacado para Breves-PA, nomeado para o cargo de promotor
público naquela comarca do Arquipélago de Marajó, por indicação do deputado
José Neves Alacid Ramos, um amigo da faculdade. De Breves foi para Curuçá, ainda no Pará,
permanecendo por três meses. Volta a Belém-PA, estabelecendo-se num escritório
localizado na Rua Leão XIII, sem ter muito sucesso.
Por
influência do pai, muito amigo do coronel Janary Nunes, então governador do
Território do Amapá, viaja a Macapá em 4 de agosto de 1957. Chegando na capital
do Amapá, é logo nomeado pelo governador Amilcar Pereira, diretor da Divisão de
Segurança Pública. No governo de Pauxy
Nunes desempenhou o cargo de assessor jurídico do Território. Depois disso,
passa a se dedicar de corpo e alma à advocacia da população.
Abre
seu primeiro escritório na Rua Candido Mendes, e volta, por indicação direta do
governador Pauxy Nunes, para a direção da Divisão de Segurança e Guarda,
substituindo temporariamente o coronel Luiz Ribeiro de Almeida. Tendo problemas
ideológicos com o Governo, resolve se filiar ao PTB (Partido Trabalhista
Brasileiro), a convite do também advogado Dalton Cordeiro de Lima, primeiro
presidente da OAB Amapá, participando de vários congressos. Aliando-se aos
sindicatos de trabalhadores, o PTB no Amapá passou a se defrontar com o coronel
Janary Nunes que à época foi candidato a deputado federal.
Dalton
venceu também, mas não levou porque foi boicotado nas urnas por Vicente
Portugal Júnior, a mando do governante da época. Naqueles tempos não havia
muita confiabilidade na lisura de um sufrágio eleitoral, pois havia sempre uma
ligeira e velada proteção a todos os membros que tinham fidelidades ao
presidente e ao governante territorial, que se candidatassem a cargo público,
sob a batuta de uma enigmática “mística”.
A
partir de 1964, com a tomada do Poder pelos militares, Cicero Bordalo passou a
lutar contra a perseguição politica no Amapá e foi o único a ter coragem moral
e profissional para defender o preso de nome
José Barbosa Brito, o Aracati. “Em um júri memorável que foi o trampolim
da minha carreira e glória profissional, eu obtive vitória estrondosa, isto em plena ditadura
militar, onde não eram respeitados os direitos humanos”, recordou, em vida, a
este pesquisador. Na época ele criticou o secretário de Segurança Pública
Roberto Sousa, chamando-o de esclerosado, epilético e doente, porque o mesmo
mandou prender cidadãos inocentes, acusando-os de corrupção e subversão. Assim,
o dr. Cicero passou a ser o defensor preferido dos presos políticos do Amapá,
violentamente perseguido nos anos de chumbo por vários governadores, como o
general Luiz Mendes da Silva.
Como
advogado, Cicero atingiu todos os estágios que um profissional pode
alcançar: nos juízos de 1º e 2º graus e
até os que precisavam da arbitragem do Supremo Tribunal Federal (STF). Por duas
vezes concorreu para a presidência da OAB-AP. Atuou com desenvoltura como
criminalista, durante vários anos e, nesta área, aprendeu bastante com o
“mestre” Jarbas Amorim Cavalcante, considerando-o seu pai espiritual e
doutrinário. Atuou varias vezes como
orador de Tribunais de Juri. Sua desenvoltura nos discursos e facilidade
erudita vêm desde os 16 anos, quando já fazia saudações, em nome dos colegas
alunos, aos mestres.
Enfrentou
inúmeras batalhas nos tribunais. Seu maior influenciador na vida politica e
social foi o ex-presidente norte-americano Abrahan Lincoln, que foi patrono de
seu escritório. Seus poetas preferidos no Amapá foram Álvaro da Cunha e Ivo
Torres, que eram seus contemporâneos e amigos. Sua devotada vida ao Direito e à
defesa do Cidadão, e sempre com um sorriso permanente, influenciaram os filhos
na arte e na ciência do Direito, entre eles os mais velhos Cícero Bordalo
Júnior e Fabíola Bordalo, filhos do primeiro casamento, com a professora e
radialista Creusa Souza Bordalo. Em segundas núpcias, com Nilza Bordalo, teve outros filhos, não
menos famosos, como Carla Patricia, Paulo de Tarso e Charles Bordalo.
Era um
dos advogados mais sérios e pró-ativos do Amapá, participando do movimento que
instalou a secção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Macapá, ainda na
época do Território Federal do Amapá e foi também conselheiro federal. Seu
escritório de advocacia, um dos mais requisitados do Estado, mudou de endereço
e passou a funcionar, por muitos anos, nos altos do antigo Elite Bar, depois
Gato Azul, no centro da cidade. Na época, a sua biblioteca era a mais completa
da cidade, na especialidade de Filosofia e Ciência Jurídica.
Após
várias décadas de dedicação exclusiva à defesa dos cidadãos, a alma de Cicero
Bordalo finalmente descansa, aos 82 anos, deixando toda uma geração de novos
advogados entristecidos pela sua viagem sem volta num descanso merecido, assim
como deixou enlutada, até hoje, sua família, e em especial seu filho Cicero
Junior, que segue, célere, os ensinamentos de seu pai, seu guru e seu mestre, a
exemplo dos outros filhos Patricia e Charles, que também escolheram os caminhos
da defesa dos cidadãos.