domingo, 1 de abril de 2018

REPERCUSSÕES DO GOLPE MILITAR NO AMAPÁ



PARTE I; INSTAURA-SE O GOLPE


Desde o fatídico 31 de março de 1964, o Brasil nunca mais seria o mesmo. E nenhuma instituição foi tão vítima da virulência do regime quanto a imprensa. Censurados e cercados da liberdade de expressão, jornalistas e radialistas foram amordaçados pelos militares.

            Embora a Censura começasse em 1964, com o golpe dado pelos militares ficou mais violenta em dezembro de 1968, a partir do AI-5. Começou com toda força através de bilhetinhos e telefonemas para as redações de jornais e rádios (a TV começa no Amapá em 1974), alertando sobre assuntos que não podiam ser abordados. Era inicio da censura prévia com censores nas redações. No começo, a censura visava mais a divulgação de atos terroristas, divisão nas Forças Armadas e no Governo. Depois passou a ser a esconder corruptos, torturas, violências policiais e até epidemias.

            Em 30 de março de 1964, véspera do golpe militar, o coronel Janary Nunes, à época deputado federal pelo Amapá, expede instruções ao governador Terêncio Porto, seu aliado, para que este se solidarize ao presidente João Goulart.
           
            Rio 561 30 11.20 L-5R 11.25 JQ-EDS
            Rrg Rec. Confidencial Gov. Terêncio Porto
            80 DF-RR 30:3:64 – Sugiro caro amigo encaminhar telegramas presidente República vg Chefe  Casa Militar vg Ministro Guerra vg apresentando absoluta solidariedade face situação país et esclarecendo clima Território eh de absoluta solidariedade face situação país et esclarecendo clima Território eh de absoluta confiança et apoio ao presidente Republica et ao seu Governo pt Cds Sds Janary Nunes.

             Obs: VG: Vírgula; et: e; eh: é; pt: pt; Cds: cordiais; Sds: saudações

            O representante do Governo do Amapá no Rio de Janeiro cumpre instruções do governador do Amapá, transmitindo telegrama de solidariedade ao presidente João Goulart:

            Rio 573 94 30 16:45. Governador Terêncio Porto
            Macapah 551-RR-3-64
            Cumprindo determinação vossencia retransmito seguinte rádio dirigido ao presidente da República bipts aspas Governo e Povo Amapah estão integralmente solidários a Vossencia vg momento histórico nacional vg quando aspirações milhões brasileiros encontram plena compreensão et ressonância eminente chefe nação pt espírito público vg coragem civica et opção pelos humildes marcarão forma indelével pátria pr Cordiais saudações pt Terêncio Furtado de Mendonça Porto governador Território Amapá aspas pt Copia constava arquivo Serviço telegráfico está sendo retransmitida mãos dona Thais pt Resp os sds. Fernando Coutinho – RR.
Obs: VG: Vírgula; et: e; eh: é; pt: pt; Cds: cordiais; Sds: saudações. A letra h no final (Ex: Macapah denota acentuação da palavra).

Em 1º de 1964, Fernando Coutinho, representante do governo do Amapá no Rio de Janeiro, tranqüiliza o governador do Amapá, Terêncio Furtado de Mendonça Porto, sobre o envio do telegrama de solidariedade ao presidente João Goulart. A essa hora, os militares já haviam tomado o Poder:

Rio 11 80 1 12,20 12,30. Governo Terêncio Porto. Macapah, 570-RR-1.4.64. Satisfação comunicar vossência que em cumprimento suas determinações restabelecemos contato Ministério Justiça  vg através chefe gabinete Janson Guedes vg renovando integral apoio povo amapaense et ratificando posição absoluta solidariedade Amapah ao presidente João Goulart e seu governo face últimos acontecimentos pt colocamos inteira disposição aquela autoridade inclusive com oferecimento nosso serviço telegráfico qualquer hora pt continuamos expectativa suas determinações pr estamos tentando igualar contato igual com Palácio Laranjeiras et Ministério Guerra pt Sds. Fernando Coutinho, Rep exp Rio.

Rio 12 60 1 13:00 13:50. Governador Terêncio Porto. Macapáh, 571-RR-1.4.64 – Adiantamento rádio 570 RR vg Satisfação informar vossência acabamos estabelecer contatos general Assis Brasil Casa Militar vg através coronel Carlos Vilela vg transmitindo aquela autoridade apoio et solidariedade pessoal vossencia vg encarecendo ao mesmo tempo vg fazer chegar presidente Republica mesmas expressões em nome governo et povo amapaense vg face últimos acontecimento registrados país pt rps sds Fernando Coutinho Rep Exp Rio.

Janary Nunes escreve um telegrama ao governador Terêncio Porto pedindo para o povo do Amapá se solidarizar com o presidente João Goulart:

Rio 4 60 1 11:40 11;45. Governador Terencio Porto. Macapah. 81-DF-RR – 1.4.64. Nessa delicada vida brasileira transmito minha saudação calorosa ao Governo et povo amapaense pt Concito os amapaenses ah formularem bloco único de solidariedade et apoio ao presidente Goulart pt Nós vg que sempre partilhamos campanha reformista vg temos que lugar agora para que se restabeleça integralmente clima ordem et prosperidade nossa pátria pt apertado Abraço pt Janary Nunes.

JANARY MUDA DE IDEIA


O deputado Janary Nunes muda de idéia no mesmo dia (2) e envia outro telegrama  A Terêncio, desta vez pedindo que suste a divulgação da mensagem e solicita outras informações sobre a postura asumida pelos políticos de oposição no Amapá. Para tranqüilizar Janary, Terêncio, que havia sido indicado para o governo em novembro de 1962 por interveniência de Janary junto ao general Henrique Teixeira Lott, envia mensagem onde diz que vários grupos se solidarizaram com João Goulart e que havia, inclusive, sindicatos e membros do PTB declarando apoio a Jango.

Rio GB 18 20 2 1050 10:52 AP eDS. Gov. Terêncio Porto. Macapá-AP. 572/RR de 2.4.64 – Se possível peço sustar divulgação pelos jornais e rádios sobre mensagem enviada Telegrama n 80 DF RR datado 30.03 pt solicito obséquio informar comportamento nossos adversários face nova situação nacional pt abraços Janary Nunes.

O governador responde urgentemente a Janary:

Urgente Reservado. Deputado Janary Nunes – Rio, 754/GAB 2.4.64 Ref 85-DF RR de 2.4 pt. Comunico caríssimo amigo comportamento adversário eh tranqüilo vg vários grupos solidarizaram-se governador inclusive sindicatos et membros representativos Diretório Regional PTB pt Todo território se acha clima absoluta calma pt Abraços Terêncio Porto.

Na verdade, a situação  não era tão favorável, tanto que Terêncio caiu ainda em abril de 1964 depois de um levante protagonizado pela Guarda Territorial. Em 16 de junho, o comandante da Guarda Territorial do Amapá, tenente Uadih Charone, é preso por 60 dias sob acusação de “tramar uma rebelião” contra o governador Luiz Mendes da Silva. O movimento que precedeu essa crise foi causado por alguns jornalistas, dentr eles Amaury Guimarães Farias, José Araguarino Mont’Alverne, padre Jorge Basile e o empresário Leopoldo Teixeira (Teixeirinha). Ouvido pelo censor José Alves, um advogado pernambucano,  José Araguarino conseguiu arrancar dele a confissão de um processo de intervenção em jornais considerados subversivo era ilegal.E mais: que o governo havia feito, de forma ilícita, uma devassa nos arquivos pessoais dessas pessoas e que era solidário a Jango, o presidente deposto.

A confissão foi levada a Belém por Teixeirinha, como o objetivo de ser entregue a Jarbas Passarinho, solidário ao regime militar. Por um desses azares inexplicáveis, no mesmo avião de Teixeirinha estava o governador Terêncio Porto que manda prende-lo assim que desembarca em Val-de-Cans. Esperto, Leopoldo esconde o documento dentro do sapato e segue para a representação do governo do Território, onde fica detido. Ele consegue entregar a confissão a José Pereira da Costa (o Branco) que leva o documento a Raul Montero Valdez (que governou o Amapá entre outubro de 1961 e novembro de 1962) e que por sua vez leva-o ao major Jarbas Passarinho. Daí para o afastamento de Terêncio foi uma questão de dias.

Enquanto isso, em Macapá, Amaury Farias e José Araguarino Mont’Alverne continuam foragidos da polícia. Cansados de procurar abrigo, resolvem se esconder em suas próprias casa. Mas o estopim do levante da Guarda Territorial acontece quando o governador determina a prisão do padre Jorge Basile, que era editor do jornal A Voz Católica. O tenente Charone nega-se a cumprir a ordem e convoca a GT para a Fortaleza de São José, onde se amotinam. “A residência governamental foi fica desguarnecida até a chegada de um pelotão militar de Belém, ficando a situação sob controle do Exército”, relatou Hélio Pennafort.

Dias depois Terêncio Porto era deposto, assumindo em seu lugar o general Luiz Mendes da Silva, que governou o Amapá até abril de 1967.


Texto: Edgar Rodrigues, Renivaldo Costa e Rodrigo Cunha

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