PARTE I; INSTAURA-SE O GOLPE
Desde o fatídico 31
de março de 1964, o Brasil nunca mais seria o mesmo. E nenhuma instituição foi
tão vítima da virulência do regime quanto a imprensa. Censurados e cercados da
liberdade de expressão, jornalistas e radialistas foram amordaçados pelos
militares.
Embora
a Censura começasse em 1964, com o golpe dado pelos militares ficou mais
violenta em dezembro de 1968, a partir do AI-5. Começou com toda força através
de bilhetinhos e telefonemas para as redações de jornais e rádios (a TV começa
no Amapá em 1974), alertando sobre assuntos que não podiam ser abordados. Era
inicio da censura prévia com censores nas redações. No começo, a censura visava
mais a divulgação de atos terroristas, divisão nas Forças Armadas e no Governo.
Depois passou a ser a esconder corruptos, torturas, violências policiais e até
epidemias.
Em
30 de março de 1964, véspera do golpe militar, o coronel Janary Nunes, à época
deputado federal pelo Amapá, expede instruções ao governador Terêncio Porto,
seu aliado, para que este se solidarize ao presidente João Goulart.
Rio
561 30 11.20 L-5R 11.25 JQ-EDS
Rrg Rec. Confidencial Gov. Terêncio
Porto
80
DF-RR 30:3:64 – Sugiro caro amigo encaminhar telegramas presidente República vg
Chefe Casa Militar vg Ministro Guerra vg
apresentando absoluta solidariedade face situação país et esclarecendo clima
Território eh de absoluta solidariedade face situação país et esclarecendo
clima Território eh de absoluta confiança et apoio ao presidente Republica et
ao seu Governo pt Cds Sds Janary Nunes.
Obs: VG: Vírgula; et: e; eh: é;
pt: pt; Cds: cordiais; Sds: saudações
O
representante do Governo do Amapá no Rio de Janeiro cumpre instruções do governador
do Amapá, transmitindo telegrama de solidariedade ao presidente João Goulart:
Rio
573 94 30 16:45. Governador Terêncio Porto
Macapah
551-RR-3-64
Cumprindo
determinação vossencia retransmito seguinte rádio dirigido ao presidente da
República bipts aspas Governo e Povo Amapah estão integralmente solidários a
Vossencia vg momento histórico nacional vg quando aspirações milhões
brasileiros encontram plena compreensão et ressonância eminente chefe nação pt
espírito público vg coragem civica et opção pelos humildes marcarão forma
indelével pátria pr Cordiais saudações pt Terêncio Furtado de Mendonça Porto
governador Território Amapá aspas pt Copia constava arquivo Serviço telegráfico
está sendo retransmitida mãos dona Thais pt Resp os sds. Fernando Coutinho –
RR.
Obs:
VG: Vírgula; et: e; eh: é; pt:
pt; Cds: cordiais; Sds: saudações. A letra h no final (Ex:
Macapah denota acentuação da palavra).
Em 1º de 1964, Fernando Coutinho, representante do governo do
Amapá no Rio de Janeiro, tranqüiliza o governador do Amapá, Terêncio Furtado de
Mendonça Porto, sobre o envio do telegrama de solidariedade ao presidente João
Goulart. A essa hora, os militares já haviam tomado o Poder:
Rio
11 80 1 12,20 12,30. Governo Terêncio Porto. Macapah, 570-RR-1.4.64. Satisfação
comunicar vossência que em cumprimento suas determinações restabelecemos
contato Ministério Justiça vg através
chefe gabinete Janson Guedes vg renovando integral apoio povo amapaense et
ratificando posição absoluta solidariedade Amapah ao presidente João Goulart e
seu governo face últimos acontecimentos pt colocamos inteira disposição aquela
autoridade inclusive com oferecimento nosso serviço telegráfico qualquer hora
pt continuamos expectativa suas determinações pr estamos tentando igualar
contato igual com Palácio Laranjeiras et Ministério Guerra pt Sds. Fernando
Coutinho, Rep exp Rio.
Rio
12 60 1 13:00 13:50. Governador Terêncio Porto. Macapáh, 571-RR-1.4.64 – Adiantamento
rádio 570 RR vg Satisfação informar vossência acabamos estabelecer contatos
general Assis Brasil Casa Militar vg através coronel Carlos Vilela vg
transmitindo aquela autoridade apoio et solidariedade pessoal vossencia vg
encarecendo ao mesmo tempo vg fazer chegar presidente Republica mesmas
expressões em nome governo et povo amapaense vg face últimos acontecimento
registrados país pt rps sds Fernando Coutinho Rep Exp Rio.
Janary Nunes escreve um telegrama ao governador Terêncio
Porto pedindo para o povo do Amapá se solidarizar com o presidente João
Goulart:
Rio
4 60 1 11:40 11;45. Governador Terencio Porto. Macapah. 81-DF-RR – 1.4.64. Nessa
delicada vida brasileira transmito minha saudação calorosa ao Governo et povo
amapaense pt Concito os amapaenses ah formularem bloco único de solidariedade
et apoio ao presidente Goulart pt Nós vg que sempre partilhamos campanha
reformista vg temos que lugar agora para que se restabeleça integralmente clima
ordem et prosperidade nossa pátria pt apertado Abraço pt Janary Nunes.
JANARY MUDA DE IDEIA
O deputado Janary Nunes muda de idéia no mesmo dia (2) e
envia outro telegrama A Terêncio, desta
vez pedindo que suste a divulgação da mensagem e solicita outras informações
sobre a postura asumida pelos políticos de oposição no Amapá. Para tranqüilizar
Janary, Terêncio, que havia sido indicado para o governo em novembro de 1962
por interveniência de Janary junto ao general Henrique Teixeira Lott, envia
mensagem onde diz que vários grupos se solidarizaram com João Goulart e que
havia, inclusive, sindicatos e membros do PTB declarando apoio a Jango.
Rio
GB 18 20 2 1050 10:52 AP eDS. Gov. Terêncio Porto. Macapá-AP. 572/RR de 2.4.64
– Se possível peço sustar divulgação pelos
jornais e rádios sobre mensagem enviada Telegrama n 80 DF RR datado 30.03 pt
solicito obséquio informar comportamento nossos adversários face nova situação
nacional pt abraços Janary Nunes.
O governador responde urgentemente a Janary:
Urgente
Reservado. Deputado Janary Nunes – Rio, 754/GAB 2.4.64 Ref 85-DF RR de 2.4 pt. Comunico
caríssimo amigo comportamento adversário eh tranqüilo vg vários grupos
solidarizaram-se governador inclusive sindicatos et membros representativos
Diretório Regional PTB pt Todo território se acha clima absoluta calma pt
Abraços Terêncio Porto.
Na verdade, a situação
não era tão favorável, tanto que Terêncio caiu ainda em abril de 1964
depois de um levante protagonizado pela Guarda Territorial. Em 16 de junho, o
comandante da Guarda Territorial do Amapá, tenente Uadih Charone, é preso por
60 dias sob acusação de “tramar uma rebelião” contra o governador Luiz Mendes
da Silva. O movimento que precedeu essa crise foi causado por alguns
jornalistas, dentr eles Amaury Guimarães Farias, José Araguarino Mont’Alverne,
padre Jorge Basile e o empresário Leopoldo Teixeira (Teixeirinha). Ouvido pelo
censor José Alves, um advogado pernambucano,
José Araguarino conseguiu arrancar dele a confissão de um processo de
intervenção em jornais considerados subversivo era ilegal.E mais: que o governo
havia feito, de forma ilícita, uma devassa nos arquivos pessoais dessas pessoas
e que era solidário a Jango, o presidente deposto.
A
confissão foi levada a Belém por Teixeirinha, como o objetivo de ser entregue a
Jarbas Passarinho, solidário ao regime militar. Por um desses azares
inexplicáveis, no mesmo avião de Teixeirinha estava o governador Terêncio Porto
que manda prende-lo assim que desembarca em Val-de-Cans. Esperto, Leopoldo
esconde o documento dentro do sapato e segue para a representação do governo do
Território, onde fica detido. Ele consegue entregar a confissão a José Pereira
da Costa (o Branco) que leva o documento a Raul Montero Valdez (que governou o
Amapá entre outubro de 1961 e novembro de 1962) e que por sua vez leva-o ao
major Jarbas Passarinho. Daí para o afastamento de Terêncio foi uma questão de
dias.
Enquanto
isso, em Macapá, Amaury Farias e José Araguarino Mont’Alverne continuam
foragidos da polícia. Cansados de procurar abrigo, resolvem se esconder em suas
próprias casa. Mas o estopim do levante da Guarda Territorial acontece quando o
governador determina a prisão do padre Jorge Basile, que era editor do jornal A
Voz Católica. O tenente Charone nega-se a cumprir a ordem e convoca a GT para a
Fortaleza de São José, onde se amotinam. “A residência governamental foi fica
desguarnecida até a chegada de um pelotão militar de Belém, ficando a situação
sob controle do Exército”, relatou Hélio Pennafort.
Dias
depois Terêncio Porto era deposto, assumindo em seu lugar o general Luiz Mendes
da Silva, que governou o Amapá até abril de 1967.
Texto: Edgar Rodrigues, Renivaldo Costa e Rodrigo Cunha
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