PARTE II: GOVERNO MILITAR QUERIA O PADRE JORGE PRESO.
Na manhã do dia 12 de maio de 1964,
o Tenente Uadih Accioly Charone, Diretor da Divisão de Segurança e Guarda e
Comandante da Guarda Territorial foi chamado ao Palácio do Governo, então
instalado em um velho casarão edificado na área hoje ocupada pela Biblioteca
Elcy Rodrigues Lacerda, para falar com o governador Terêncio Furtado de
Mendonça Porto. Assim que se apresentou, recebeu uma ordem que jamais esperava
lhe fosse passada com tanto ímpeto e rancor: -“tenente Charone, prenda o Padre
Jorge Basile e o próprio Bispo Aristides Piróvano se necessário”. Sem vacilar,
o militar foi categórico em dizer que não a cumpriria. Foi imediatamente
exonerado do cargo que ocupava e mandado que se recolhesse a Fortaleza São
José. Esta determinação o tenente cumpriu imediatamente. Em pouco tempo os
Delegados de Polícia, sargentos, cabos e soldados da Guarda Territorial também
se recolheram à velha fortificação, deixando o Território do Amapá acéfalo
quanto à segurança pública.
Na época, ainda não
havia corpo de tropa do Exército em Macapá. Funcionava apenas o Tiro de Guerra
nº. 130, cujo diretor era o tenente Charone. O coronel Terêncio Porto era
paraense e tinha sido nomeado para a cargo de governador pelo presidente Jango
Goulart, que acatou uma indicação do coronel Janary Nunes, então exercendo o
cargo de deputado federal. Nos 42 dias após a eclosão do golpe militar de 1964,
muitas arbitrariedades foram cometidas em nome da “Revolução”.
O jornal “A Voz
Católica”, editado pela Prelazia de Macapá, cujo redator era o Padre Jorge
Basile, criticava os excessos praticados. Sem voz ativa com os integrantes dos
órgãos de segurança pública, o governador comunicou o ocorrido ao Comando
Militar da Amazônia/8ª Região Militar, Ministério da Justiça, Ministério da
Guerra e Conselho de Segurança Nacional e solicitou tropas federais. Às 18h15m
do dia 12 de maio, chegava a Macapá um avião da Força Aérea Brasileira
transportando um contingente de soldados da 8ª Região Militar/ 26º Batalhão de
Caçadores, comandado pelo capitão Francisco Moacyr Meyer Fontenelle. O
destacamento veio fortemente armado, julgando que os revoltosos de Macapá
estivessem dispostos a um enfrentamento.
Parte do destacamento
montou acampamento na Praça Barão do Rio Branco, para dar proteção ao
governador, e os demais militares, sob o comando do capitão Fontenelle seguiram
para a Fortaleza, onde não encontraram a menor resistência dos chamados
“insurretos”. Alguns estudantes da Escola Técnica de Comércio do Amapá-ETCA,
que foram prestar solidariedade ao tenente Charone, diretor do estabelecimento
de ensino, em frente ao portão da Fortaleza, sentiram na pele a repressão dos
agentes de um governo de exceção. Os lideres do movimento foram presos, o que
bastou para a debandada dos demais.
Às 21 horas, quando
os ânimos estavam serenados, o governador Terêncio Porto nomeou o Secretário
Geral Orlando Sabóia Barros para, acumulativamente, exercer o cargo de Diretor
da Divisão de Segurança e Guarda e o Comando da Guarda Territorial. Três dias
depois, a 15 de maio de 1964, tomava posse na Presidência da República o
marechal Castelo Branco, que, na mesma data, nomeou o general Luiz Mendes da
Silva para governar o Amapá. No dia 16 de maio, o capitão Fontenelle assumiu a
DSG e a GT. Também exercia a interventoria no Sindicato dos Estivadores. A
partir da sua posse, a conta da chamada “denúncia branca”, dezenas de pessoas
foram presas, acusadas de pertencerem ao movimento comunista. Graças a sua
atuação em Macapá, Fontenelle foi transferido para o Rio de Janeiro no posto de
major. O Grupo Tortura Nunca Mais denuncia Fontenelle como um dos torturadores
do DOI/CODI, no período 1969/1970. O Processo sobre tortura, que se encontra no
Superior Tribunal Militar, relata detalhes de sua atuação. Em 29/8/1964, o
tenente Charone, reabilitado, voltava a dirigir a DSG.
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