PARTE III:
A CENSURA NA RÁDIO EDUCADORA SÃO JOSÉ
A Rádio Educadora São José (ZYA-52,
1.460 kHz – ondas médias; e 2.400 kHz
– ondas tropicais) foi inaugurada
oficialmente em 4 de agosto de 1968, dois anos
serem publicados os dois decretos referentes à concessão da emissora. A
data foi publicada no jornal A Voz Católica, do dia 10 de agosto do mesmo ano,
que testemunhou a cerimônia de inauguração, além dos registros encontrados em
diversos documentos nos arquivos da Diocese.
O prédio, construído na Rua Leopoldo
Machado (na época, fora dos limites
urbanos de Macapá), possuía biblioteca,
auditório, dois estúdios, além de dormitório para os padres. Os equipamentos da
emissora foram trazidos dos Estados Unidos, através do padre Domenico Bottan,
do PIME, formado em engenharia de rádio e televisão pela The Ohio State
University, na cidade de Columbia. Em função da superioridade dos
equipamentos, o próprio governador Ivanhoé Gonçalves Martins (1967-1972) chegou
a fazer seus discursos utilizando os equipamentos da Educadora, determinando a
Difusora a entrar em cadeia.
Os
primeiros funcionários – na maioria jovens entre 16 e 24 anos – passaram por
um curso de preparação, nos meses de outubro
e novembro de 1967. Segundo o
radialista João Lázaro6, dos 108 inscritos,
apenas 24 foram aprovados após os testes de
locução, escrita e interpretação de textos,
organizados através da Prelazia7.
No dia da inauguração, os funcionários e
diretores se reuniram na biblioteca da
emissora. Após a execução do prefixo da rádio
– O Lago dos Cisnes de Tchaikovsky,
executado pela orquestra de Ray Conniff
(gravação de 1958) – o bispo prelado dom
José Maritano (sucessor de dom Aristides
Piróvano, que foi nomeado como superiorgeral
do PIME, na Itália) enviou uma mensagem
abençoando e entregando a nova
emissora de rádio aos amapaenses. O evento
prosseguiu com discursos da diretora-
5 Decreto n° 58.544, de 30 de maio de 1966,
concessão referente à “Rádio Educadora São José Ltda.”
Para
instalar uma emissora em ondas médias em Macapá; e Decreto n° 53.938, de 2 de
agosto de 1966, referente às ondas tropicais. Entre os primeiros funcionários e
colaboradores da “caçulinha”, estão os locutores João Lázaro, Conceição
Furtado, Ellen Coelho, Luiz Tadeu, Bonfim Salgado, Anselmo Domingos e Hélio
Pennafort; na equipe de esportes, Sérgio Menezes, José Moacyr Banhos de Araújo,
Luiz Roberto da Motta Borges, Ivo Pinho e Francisco Salles de Lima; os
controlistas de som, Itamar Torres, Jacinto Paulo Alves e Paulo Gazel; no
escritório, Domingos Maciel, Ernâni Motta e Graça Viana.
A primeira grade de programação da Rádio
Educadora foi elaborada pelo
experiente José Maria de Barros, recém-saído
da Difusora, onde era diretor artístico.
Entre os primeiros programas de destaque
estão “Fatos, Boatos & Vice-Versa”
(programas de crônicas apresentado por Bonfim
Salgado), “Café da Manhã”, “Vesperal
da Saudade” (apresentado por José Banhos de
Araújo, com sorteio de prêmios), “Um
Tema na Ordem do Dia” (programa de debates,
sob comando de Hélio Pennafort),
“Carrossel Esportivo-Musical” e “Yê, Yê, Yê,
Sessão das Cinco” (apresentado pelo
disc-jóquei João Lázaro, com músicas dos
Beatles).
Os
programas de crônica foram adotados nas duas emissoras: Difusora e
Educadora. As atrações ocupavam pequenos
espaços na grade de programação –
geralmente cinco minutos – e se resumiam a
leitura de um único texto, extenso,
abordando apenas um assunto por edição. As
crônicas eram lidas em programas como
“Fatos, Boatos & Vice-Versa”, “Ponto-de-Vista”
e “Café da Manhã”.
O
espírito libertário dos jovens locutores e redatores da Rádio Educadora, diante
das pressões impostas pelos governos
militares às empresas de comunicação a partir da
década de 1970, levava preocupação à primeira
gerente, professora Maria das Dores
Corrêa, que chegou a ser chamada diversas
vezes a comparecer ao prédio da Polícia
Federal. “Dentro da cabine, o locutor tem o
roteiro, mas lá ele pode falar o que quiser e
isso foge do controle. Como era uma turma
muito jovem, cheia de entusiasmo, de
ideais, muitas vezes isso complicava a
Prelazia”, afirma a professora.
Bonfim
Salgado foi um dos primeiros locutores alvos da censura do Regime
Militar, por conta das crônicas, como o Vento
Me Contou e Se Eu Fosse Rei
apresentadas nos programas “Fatos, Boatos
& Vice-Versa” e “Café da Manhã”. Salgado
chegou a ser detido por motivos
desconhecidos, conforme explica nota publicada no
jornal A Voz Católica. Maria das Dores Corrêa
assumiu o cargo de procuradora-gerente por conta da Lei, que proibia
estrangeiros em cargos de administração em emissoras de rádio e televisão. Na
verdade, a emissora estava sob gerência dos padres italianos Gaetano Maiello e,
posteriormente, Jorge Basile.
SOLIDARIEDADE
– Durante o transe vexatório que sofreu, no início da
semana, ao ser detido, por motivos ainda
não esclarecidos, Bonfim Salgado
recebeu de parte dos ouvintes, as mais
carinhosas manifestações de
solidariedade. Inúmeras foram as pessoas
que pessoalmente ou através de
telefone se manifestaram, solidarizando-se
com o rádiojornalista da RE. O fato
dispensa comentários. O programa “Qual é
a Nova?”, produzido e apresentado
por BS, que normalmente se estriba em
largo índice de audiência, no dia
seguinte ao de sua detenção, alcançou
escuta total. (A VOZ CATÓLICA, 1º fev.
1969).
Assim como os músicos profissionais, os
locutores eram obrigados a andar com
uma carteirinha expedida pelo Departamento de
Censura de Diversões Públicas, da
Polícia Federal. Conta Nilson Montoril10,
narrador esportivo da Educadora na década de
1970, que já chegou a ser abordado por
agentes da PF durante as partidas de futebol no
Estádio Glicério Marques. “Se eles chegassem
ao estádio e alguém da equipe de
esportes não tivesse com as duas carteirinhas
[da Polícia Federal e a de identidade, pois
a primeira carteira não dispunha de
fotografia], imediatamente tinha que deixar o
microfone”.
A
pressão atingiu inclusive o padre Gaetano Maiello, que foi diretor da Rádio
Educadora e da Voz Católica entre 1967 e
1970. Durante este período, chegou a
escrever crônicas para os programas
“Ponto-de-Vista” e “Café da Manhã”, vistos com
certo temor pelas autoridades locais. Por
conta disso, chegou a enfrentar algumas
situações desconfortáveis. Segundo Maiello11,
em uma das vezes que houve
racionamento de gasolina na capital, foi
obrigado a ir até a delegacia:
Por
causa da falta de gasolina, eu cheguei a contratar uma bomba num posto da
cidade. Eu tinha a chave, então podia ir
lá. Acontece que certo dia, quando fui
retirar a gasolina que era minha, um homem
me cercou e disse para comparecer
até a delegacia às sete da noite. Eu
tinha que ir à cadeia toda a noite. Então,
consegui falar com um advogado e ele me
concedeu um habeas-corpus. E,
noutro dia, quando fui pegar gasolina,
já em outro posto, mais uma vez me
chamaram para ir a cadeia. Isso
aconteceu sete vezes.
Maiello,
chegou a ser indagado pelo governador do Território, o general Ivanhoé Martins:
“mas porque você nunca fala de mim?”, se referindo a ausência de comentários
sobre o governo nos programas apresentados pelo sacerdote na Educadora. Então o
padre respondeu: “só há um problema: com a mesma liberdade que o senhor fala de
mim, eu também quero falar do senhor”. Maiello permaneceu em Macapá até 1972,
quando foi afastado da cidade e convocado para trabalhar pela Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Entre uma edição ou outra, os padres
produtores do programa “Ponto-de-Vista” davam alfinetadas no governo, em tom de
ironia. Assim foi em uma das edições, cuja data não pôde ser registrada:
Tudo acontece nesta terra de Alferes
Cabralzinho! E acontece, assim, de uma hora para outra, tão de inesperado que
deixa a gente embasbacado, bobo, apalermado.
Mas não é de hoje, não, que é assim. A
prática é velha, tem barbas brancas, vem de muito tempo. Desde que o Território
é Território. E o povo, coitado do povo, vai engolindo, com a mesma
repugnância, como se estivesse comendo pedaços de sapo cru... Não tendo outra
alternativa, parte para a gozação. Quem não se lembra o triste tempo em que o
funcionário era obrigado a ir buscar, no aeroporto, o governador, quando de
suas idas e vindas, sob pena de ter seu “ponto” cortado, sob pena de ter
perdido seu rico dia de trabalho? Desde aí, as coisas gozadas, risonhas,
acontecem, a três por quatro,
repentinamente. E o povo olha pro
“negócio”, com um sorrisinho de canto de
bôca, sorrisinho irônico, de deboche, de
gozo...
Em outro exemplo, no programa “O Redator
de Plantão”, apresentado no dia 19
de agosto de 1975 pelo padre Jorge Basile, a
crônica conta a história do encontro do
sacerdote com uma mulher pobre, cujo marido
trabalhava no garimpo, e os três filhos,
sem condições de comprar uniforme, foram
barrados e não puderam assistir às aulas.
Por esta atitude, o padre levantou algumas
questões sobre a obrigação da farda, palavra
que utiliza diversas vezes no texto. A
maneira como o autor se reportou ao termo
“farda” deu a se entender que estaria se
referindo aos militares, provocando duplo
sentido.
Fui sempre inimigo nº 1 da farda, embora
fosse obrigado quando Diretor do
CCA [Colégio Comércial do Amapá, atual
Escola Estadual Gabriel de Almeida
Café] à exigir que os alunos usassem a
dita. Fui sempre inimigo nº 1, porque
nunca pensei que farda representasse
mais disciplina ou mais respeito, ou mais
não sei o quê. Fui sempre inimigo da
farda, porque muitas vezes em nome e por
culpa da farda, alunos pobrezinhos
perderam as aulas e se não ficaram
prejudicados o foi tão simples e
exclusivamente, porque os pais tiraram o pão da
boca dos filhos, para comprar farda.
Isto é coisa que se faça? É por estas coisas
que sou inimigo n° 1 da farda.
No dia 1º de setembro de 1975, a
assessoria de Relações Públicas da Secretaria
de Segurança Pública enviou o ofício
093/75-ASP ao padre Jorge Basile, criticando o
conteúdo do programa apresentado pelo
sacerdote em relação à obrigadoriedade da
farda. No ofício, o assessor relata:
Defere-se a V. Sa. aos alunos que
deixaram de freqüentar normalmente as aulas
“POR FALTA DE FARDA”. Devo ressaltar que
a comparação feita e a maneira
como foi abordado o problema,
distorcendo os fatos, poderão ter conseqüências
graves e altamente prejudiciais ao
Território, a Comunidade e principalmente a
V. Sª. Desejo esclarecer que a palavra
“FARDA” não é adequada ao caso apresentado.
E o fato de V. Sª. dizer que é INIMIGO
Nº 1 DA FARDA, fala muito mal,
principalmente àqueles militares que
usam FARDA, como eu e tantos outros.
Comunico que V. Sª. fala mal o
Português, pois é de origem ITALIANA e se
expressa com um vocabulário muito vulgar
para uma emissora de rádio
(EDUCADORA) que devia difundir cultura e
não proporcionar
desaprendizagem da nossa língua pátria.
Em outro momento, o padre Jorge Basile
recebeu outro ofício, de número
201/75-GAB, escrito no dia 3 de setembro do
mesmo ano pelo governador do
Território, Ivanhoé Gonçalves Martins. Desta
vez, o governador exigia providências
para que a Educadora afastasse um dos
locutores (não identificado), considerado
prejudicial para as atividades do governo.
Apresso-me em informar a Vossa
Reverendíssima que apoio integralmente os
termos da correspondência, sugerindo que
sejam tomadas providências no
sentido que aquele locutor da Rádio
Educadora atente para o problema de que
suas interferências são prejudiciais ao
trabalho que estamos procurando
desenvolver no Território, por estar
desinformando dos verdadeiros fatos.
Dom José Maritano também foi uma das
pessoas que recebeu ofícios de órgãos
públicos se referindo às crônicas da
Educadora.
No dia 4 de abril de 1977, a Câmara dos
Vereadores de Macapá enviou ao bispo-prelado o ofício 79/77-CVMM, escrito pelo
presidente da casa, o vereador Jarbas Ferreira Gato:
Cumpre-me levar ao conhecimento de V.
Revma. que em alguns programas
radiofônicos levados ao ar pela Rádio
Educadora “SÃO JOSÉ”, estão existindo
distorções a respeito do trabalho
desenvolvido por este Poder e como Presidente
desta Casa é de meu dever tomar
conhecimento e responder as críticas argüidas
ao Legislativo Municipal. Assim sendo,
acabo de enviar ofício ao Diretor daquela emissora, cuja cópia junto a este, a
fim de Vossa Reverendíssima tome conhecimento do assunto em tela. Jarbas
Ferreira Gatto, presidente da Câmara de Vereadores de Macapá.
As correspondências encaminhadas à Rádio
Educadora foram guardadas e
anexadas juntamente com os scripts de cada
programa. Com isso, foi possível analisar o
conteúdo veiculado do qual as cartas se
referem. Não foi possível comprovar se essas
crônicas, escritas nos últimos anos de
atividade da Rádio Educadora, passaram pela
censura prévia da Polícia Federal, assim como
acontecia nos programas “Ponto-de-
Vista” e “Café da Manhã”, e nas grades de
programação da emissora. Nos textos dos
programas não foi percebido nenhum carimbo ou
assinatura do Departamento de
Censura de Diversões Públicas.
As
próprias tensões entre a emissora e os governos militares se apresentaram,
durante a pesquisa, como motivo para o
fechamento da Rádio Educadora, em 1978. A
versão é reforçada através do depoimento do
funcionário público e radialista Nilson
Montoril. Nos últimos anos da emissora,
Montoril apresentava o “Cidade Alerta”,
programa sobre os problemas da cidade, antes
comandado por J. Ney. Por conta disso,
Nilson chegou a ser desligado do governo do
Território. Com a pressão dos órgãos da
imprensa foi readmitido e recebeu uma
proposta de funcionários que faziam parte do
alto escalão.
O Domício Magalhães, secretário de
Administração, me chamou e disse que iria
me reintegrar no Governo, só que com uma
condição: teria que deixar a Rádio
Educadora. Quando eu estava indeciso, eu
me encontrei com alguns
companheiros, como o Walter Pacheco, o
Nestlerino Valente e o Alberto
Uchôa. O Alberto teria me dito: ‘olha
Nilson, eu acho oportuno aceitar o convite
do Domício, porque a Rádio Educadora vai
fechar, no mais tardar em abril ela
fecha’.
A declaração de Nilson Montoril mostra que o
fechamento da rádio já era tido
como algo premeditado, movido por decisões
oficiais. A mesma versão também é
confirmada pelo locutor esportivo João Silva:
A Rádio Educadora tinha uma postura
crítica, com apoio de padres de vanguarda, como o Jorge Basile e o padre
Gaetano Maiello, que tinham uma outra visão e não concordavam com tudo que
estava acontecendo. Nós também tínhamos essa visão: o militar não poderia estar
certo e o resto da errada. E por isso foi causando incômodo no Governo. Por
conta disso, alguns políticos se uniram para fechar a rádio.
A versão é negada fielmente pelos
padres, que acreditam que o problema tenha
sido apenas de ordem financeira e não
política. O padre José Busato, que no período
do fechamento era membro do conselho da
Prelazia, fala da falta de interesse da Igreja
em permanecer com a rádio:
Naquele período, a Rádio Educadora tinha
32 funcionários. Não tinha ninguém
que segurasse o pagamento do pessoal.
Sei que não entrava nada. A cada mês,
eram 500 cruzeiros de despesas a mais.
Ninguém ajudou a fechá-la, o próprio
dom José Maritano não tinha mais
interesse em manter. Se for para correr o
risco de perder o padrão ou demitir
funcionários, preferiu-se fechar tudo.
A versão sobre o problema financeiro
também é defendida pelo padre Dante
Bertolazzi15, que estava em Macapá na
época do fechamento da Educadora. Ele acredita
que a falta de experiência dos próprios
padres em administrar uma empresa teria
auxiliado para a falência da emissora.
Era difícil para a Prelazia manter toda
aquela turma que já estava ficando
grande, sendo que era um pessoal
preparado, e isso custava para pagar. Lembro
muito bem que o dom José [Maritano] era
muito preocupado com relação a isso
e perguntava: como é que nós vamos
pagar? O padre Jorge Basile também era
uma pessoa que não aceitava ajuda, era
meio que um dono das coisas que ele
administrava. Daí, a rádio teve que
fechar as portas.
As duas versões acompanharam durante todo o
processo de pesquisa e
entrevistas com as pessoas que trabalharam ou
que tiveram alguma relação com a Rádio
Educadora São José. Continua o padre José
Busato:
Tornou-se uma obrigação ter que
apresentar os dois posicionamentos. Apesar dos entrevistados apresentarem uma
visão e terem negado a outra, elas não se contradizem. Como se viu
anteriormente, houve sim pressão política. Quanto a questão financeira,
documentos da Prelazia comprovam que, desde o primeiro ano de funcionamento
(1968), a Educadora já apresentava déficit na receita, com dívida de NCr$ 3.430,40.
Somando outros débitos, como aluguel de imóveis, de empréstimos e outras
despesas, era mais NCr$ 54.348,45. Entre 1968 e 1969, a Rádio Educadora deixou
de recolher a taxa do INPS (Instituto Nacional de Previdência Social). A
emissora teve depois que fazer o recolhimento com juros e correções monetárias.
Em 1971, as dívidas já somavam Cr$ 43 mil. Nos anos de 1970 e 1971, não foram
realizados os serviços de contabilidade. Resultado: despesas de Cr$ 6.400. Nesta
mesma época, os dois veículos utilizados pela emissora estavam na oficina, com
peças para serem trocadas depois de tanto tempo de rodagem. Com as constantes
faltas de energia, a rádio precisou comprar um gerador de Cr$ 3 mil, mas até agosto
de 1971, só foram pagos Cr$ 500 e não havia dinheiro para o restante. As cabines
de locução necessitavam de reformas, além de haver uma dívida com a Associação
Brasileira de Rádio e Televisão (Abert), órgão que ainda exigia a construção de
cercado em torno do parque transmissor, localizado a dois quilômetros da sede
da emissora, na mesma rua Leopoldo Machado.
Em março de 1978, o conselho
eclasiástico da Prelazia de Macapá elaborou um
questionário para decidir sobre o futuro da
Rádio Educadora. Foram 12 perguntas
encaminhadas a todos os padres que atuavam
nas paróquias da capital. O questionário
foi escrito em italiano e respondido no mesmo
idioma. Os padres tinham um prazo de
até o dia 12 de março para entregar a
resposta. No documento, estavam questões sobre a realidade da programação da
rádio, avaliação entre aspectos positivos e negativos e
propostas aos padres em participar da grade
com programas. Vinte padres responderam o questionário. Apenas Dante
Bertolazzi, José Busato e Lino Simonelli votaram pela continuação das
atividades da emissora, desde que tomassem medidas para sanar os problemas e
tornassem a programação mais religiosa.
Os demais, incluindo os padres Angelo Bubani,
Fúlvio Giuliano, Sandro Galazzi e
Salvador Zona (um dos incentivadores da
emissora durante a sua implantação) foram a
favor do fechamento. Apenas o padre Paulo
Lepre não se arriscou a dar uma resposta
definitiva sobre o assunto. O conselho da
Prelazia decidiu então fechar as portas da
Rádio Educadora.
No mês seguinte, mais precisamente no dia 17
de abril de 1978, a Rádio
Educadora São José encerrou as atividades.
Neste dia, a programação foi conduzida
pelo padre Jorge Basile, que lamentava sobre
o fechamento da emissora, junto com os
ouvintes, que participavam pelo telefone. A
programação foi encerrada com a execução
do prefixo Lago dos Cisnes. Depois
veio o silêncio, o desfecho de quase uma década de
história da emissora da Prelazia de Macapá.
No final do mês, os transmissores foram
lacrados e as portas fechadas.
Em 17 de agosto de 1979, o Diário Oficial da
União publicou o decreto 83.867,
de 16 de agosto do mesmo ano, que renovava
por dez anos a concessão da Rádio
Educadora São José Ltda. para uma nova
empresa, a Z Publicidade do Amapá Ltda. Neste período, a nova empresa reativou
a emissora com o nome da Rádio Educadora de
Macapá.
REFERÊNCIAS
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