Territorio
Federal do Amapá foi um dos primeiros nomes que o Amapá recebeu, após o
desligamento do Pará e a redivisão territorial. Criado pelo Decreto-Lei nº
5.812, de 13 de setembro de 1943, pelo presidente da República Getúlio Vargas.
Vários
fatores foram incisivos para a criação de uma
corporação política no Amapá, desde o período colonial. Entre eles,
destacamos o surgimento da Colonia Militar Pedro II (1840), o governo do
Triunvirato (1894), o Território de Aricari (1901) e a Colônia Militar de
Clevelandia, no Oiapoque.
Por
volta de 1836, quando o movimento
nativista cabano grassou em toda a região do Pará, promovendo clima de tensão e
medo, a Fortaleza de São José de Macapá, abrigou as tropas legalistas
(anti-cabanagem) que vinham das Juntas Governativas de Belém e Santarém, com a
intenção de frear a ação dos
revolucionários cabanos nas ilhas próximas a Macapá e Mazagão. A defesa do lado
amapaense foi brilhante, e nenhum grupo cabano conseguiu tomar Macapá ou Mazagão
nesse período.
Após
a cessação do movimento, com a prisão dos revolucionários sobreviventes, o
Governo Imperial, ouvindo os rogos das lideranças do Norte, resolve criar em
1840 a Colonia Militar Pedro II,
situada na região do Araguari. O surgimento desta corporação foi necessário, em
razão das constantes ameaças francesas na região setentrional. Nesse mesmo
período as conversações em torno da neutralização da área contestada (Amapá, do
Oiapoque ao Araguari) estavam em andamento.
Em
1893 (outros mencionam 1894) os brasileiros Germano e Firmino Ribeiro descobrem
ouro nas cabeceiras do rio Oiapoque, d3ntro dos limites contestados pela
França. Mesma época o Diretório de Paris havia criado em Cayenne , na Ilha do
Diabo, uma penitenciaria para abrigar presos políticos contrários ao regime
frances. Os “creolos” de Cayenne, frente á mudança da situação na Guiana, e com
grandes esperanças na descoberta do metal prcioso, passaram a migrar para a
região das minas, próximo a atual Calçoene, provando um verdadeiro “russ” no
local. A região se transformou em “inferno a céu aberto” e “terra sem dono”,
com a presença de pessoas de várias nacionalidades e de todos os tipos de
comportamentos, que não pensavam duas vezes em cometer assassinatos pela posse
do ouro.
Estátua de Cabralzinho, o Herói do Amapá, no local onde ocorreu o conflito de 1895
Ano
de 1900. Após a invasão de franceses á então localidade de Amapá, e a resolução
suíça dos destinos do Contestado, com a
integração da região ao Pará, ocorrem vários movimentos políticos de pequena
monta, como a chamada “Revolução Macapaense”, em que tropas do Exército
brasileiro, ao comando do tenente Pompeu Aureliano de Moura, comandante militar
de Macapá, inconformadas com a decisão do Chefe de Policia de Belém, em ter
tirado o encargo do policiamento da cidade do Exército aquartelado na
Fortaleza, para a responsabilidade de novos policiais treinados em Belém, esses
militares resolvem tomar Macapa por um mês, bloqueando tanto a entrada como a
saída de pessoas. A insurreição, mais tarde sufocada por um almirante do 4º
Distrito Naval, a pedido do Chefe de Policia de Macapá Aprigio Perez Nunes, passou
para a historia como um movimento revolucionário, e reacendeu nas mentes do
então intendente Coriolano Jucá, e do juiz Manuel Buarque, a chama de autonomia
para a região.
Em
1901, após a resolução do conflito franco-brasileiro através do governo da Suiça,
Walter Hauser, que deu ganho de causa ao Brasil sobre a questão do Contestado
(1º de dezembro de 1900 – Laudo Suiço), o governo estadual do Pará cria o Território de Aricari, abrangendo a
região antes contestada, situada entre o Oiapoque e o Araguari. Clevelandia
surge a partir de 1926, inicialmente como colônia penal, e depois como colônia
agrícola, culminando com uma colônia militar a partir de 1926. Com o advento do
Território do Aricari, a porção antes contestada do Amapá passou a abranger a
nova circunscrição, ficando Macapá e Mazagão a condição de simples municípios
do Pará.
A
ascensão de Getúlio Vargas ao governo do Brasil em 1930 modificou um pouco o
cenário nacional, ao mesmo tempo em que intensificou, novamente, a cobiça internacional pela Amazonia. Assim,
novamente os estudiosos de questões fronteiriças se arvoraram na criação de
projetos de aproveitamento das áreas fronteiriças da região setentrional do
Brasil, uma vez que o Amapá já tinha sido palco destas cobiças.
Assim
foi elaborado um projeto de ocupação do Amapá, que imediatamente não foi
cumprido, em razão de problemas que o Governo Central tinha, por causa da
eclosão da Segunda Guerra Mundial. Inicialmente Getúlio Vargas tentou se manter
na neutralidade, mas com a entrada dos Estados Unidos no conflito em dezembro
de 1941, e da Conferencia dos Chanceleres Americanos, no Rio de Janeiro, em
janeiro de 1942, foi determinado o rompimento de relações entre os países
americanos e as nações do “Eixo”. Assim, Getulio Vargas rompeu relações diplomáticas
com a Alemanha e o Japão. Em 22 de agosto desse mesmo ano, com a declaração
americana de guerra á Alemanha, o Brasil se envolve no conflito.
Em
conseqüência desta decisão e da necessidade de se melhor estruturar o pais para
enfrentar as adversidades provocadas pela guerra, Vargas reativa o projeto de
áreas que protegessem as fronteiras brasileiras. Assim, ressurge a necessidade
de ocupação do Amapá.
Nas
Constituições de 1934 e 1937, são proclamadas a existência de áreas
territoriais diretamente dirigidas pelo poder federal. Assim, ganham corpo os
status de Territórios Federais. Essas áreas seriam incorporadas ao estado
brasileiro, das áreas provenientes da perda de autonomia do Estado que
revelasse incapacidade financeira para administrá-lo e promover-lhe o
desenvolvimento, como foi o caso do Pará em relação ao Amapá. Contudo, somente
em 10 de dezembro de 1940, o governo federal começaria as providencias para
concretização do dispositivo constitucional, quando presidente Getulio Vargas,
em Manaus, num discurso afirmara que a partir daquela data a recuperação da
Amazonia seria uma meta de prioridade numero um de seu governo.
O
pronunciamento do presidente Vargas reacendeu nos amapaenses as esperanças de
autonomia da região, que no entanto, só se concretizaram em 13 de setembro de
1943 com a edição do decreto-lei nº 5.812, que além do Amapá criou também os
territórios federais de Rio Branco (Roraima), Guaporé (Rondonia), Ponta Porã e
Iguaçu. De todos, o Território Federal do Amapá passou a ser “a menina dos
olhos” do Governo Federal, por sua posição geográfica e por ter os americanos
construído uma base militar aérea que servia de ponto estratégico para
incursões militares no norte da ´`Africa, durante o conflito bélico mundial, e
proteger a entrada da Amazõnia, demovendo qualquer intenção de invasão e ficar
vigilante ás movimentações nas Guianas, cujos países que os colonizavam estavam
completamente envolvidos no confronto e enfrentando dificuldades diante das
tropas inimigas.
Com
a derrota iminente das forças do “Eixo” em 1945, aumentaram as pressões
internas pela democratização do país, já que ele passou por uma experiência de
ditadura getulistas. Pressionado, Vargas marcou as eleições para a presidência
da Republica e para o Congresso Nacional. A esse sinal as forças políticas
organizaram-se.
No
Território do Amapá ainda não havia
partido político legalizado, existindo apenas simpatizantes do Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB). Janary Nunes (primeiro governador) agindo com
cautela, não decidiu logo em qual partido filiar-se. Ficou na expectativa dos
acontecimentos políticos nacionais, que cada dia que passava tornava-se o
quadro cada vez mais incerto e confuso.
O
Partido Social Democrata (PSD), no dia 19 de março, lançou o general Eurico
Gaspar Dutra como candidato á presidência. Ainda nesse mês o governador do
Pará, Magalhães Barata, hipoteca publicamente apoio ao mesmo. A decisão
contribuiu para que Janary Nunes se
decidisse também em apoiá-lo.
Quando
ainda se organizava o PSD no Amapá, ganhou projeção nacional a candidatura de
um outro militar, o brigadeiro Eduardo Gomes, da UDN (União Democratica
Nacional) com a possibilidade de ser eleito. Esse candidato, num comício em São
Paulo, em 16 de junho, na exposição de seu programa de metas, propunha a
extinção dos Territórios Federais e sua integração aos Estados de origem. Esta
foi a “deixa” para que Janary Nunes fizesse uma oposição radical ás idéias de
Eduardo Gomes. Assim, ele pronunciou um inflamado discurso conclamando os
amapaenses a aderirem a candidatura pessedista, que logo ganhou adesão da quase
totalidade da população, principalmente porque no programa do partido, ao
contrário das metas da UDN, se propugnava pela manutenção dos Territórios
Federais.
Em
2 de dezembro realizaram-se as eleições para presidente do Brasil e o congresso
Nacional. No Territorio do Amapá se votou apenas para presidente e logo as
urnas foram apuradas, com o general Dutra obtendo a maioria dos votos do
eleitorado amapaense.
A
apuração nacional no dia 15 de dezempreo indicava a preferência do eleitorado
pela candidatura pedessita. Na capital federal se preparava uma grande festa
para a posse do novo presidente e o retorno da democracia ao Brasil. Para
participar desse acontecimento e tratar de sua permanência no governo do
Território do Amapá, Janary Nunes seguiu para o Rio de Janeiro no dia seguinte
e seis dias após foi recebido pelo presidente eleito. Saiu do encontro
confirmado como governador amapaense.
Os
congressistas eleitos se tornaram constituintes e ao iniciarem os trabalhos,
parlamentares udenistas retomaram a questão da extinção dos territórios. O
deputado Hugo Carneiro, do PSD acreano, passou a defender com insistência a
manutenção dos mesmos, postulando que, ao contrário, se deveria conceder a
essas unidades federais, três vagas á Camara Federal. Mas a proposta foi
rejeitada, decidindo os parlamentares apenas por manter dois representantes
para o Acre e estabelecer uma representação para os demais territórios.
Todavia, as discussões sobre a extinção prosseguiram, encaminhando-se para
acabar com as aspirações da população do Amapá de autonomia da região.
Macapá, 1932, Praça Capitão Assis de Vasconcellos, atual Praça Veiga Cabral.
O
posicionamento udenista na Constituinte, principalmente dos sulistas preocupava
Janary Nunes, apesar de serem minoria no Congresso Nacional. Como conseqüência
segue á Capital Federal (ainda o Rio de Janeiro), para acompanhar as discussões
e exercer com os outros governadores territoriais pressão sobre os
parlamentares pessedistas para cumprimento da proposta de campanha pela
manutenção dos territórios. Essa questão o preocupava muito porque evidenciava
que não prevaleceria a fidelidade partidária e sim os interesses regionais.
O
deputado paraense João Botelho, na segunda quinzena de junho, apresenta á
Comissão Constitucional sugestão para que os Estados os quais os territórios
tinham sido desmembrados recebessem indenização por causa do desmembramento,
como o foi o Pará no caso do Amapá. Simultaneamente á proposta, setores da
Imprensa do Pará iniciara uma campanha pela extinção dos Territorios federais,
sem, contudo, chegar a influenciar e tampouco externar a opinião sobre o
assunto da totalidade dos constituintes paraenses, cuja maior bancada era a do
PSD e liderada pelo agora senador Magalhães Barata, um ferrenho defensor pela
manutenção dos Territorios, porque , segundo ele, uma possível reabsorção só
traria despesas aos Estados.
A
comissão de projetos das Disposições Transitórias da Constituição de 1946, no
dia 4 de setembro, dá por encerradas as discussões sobre o assunto, e por 39 a
2 votos decide-se pela extinção somente dos territórios de Ponta Porã e Iguaçu,
permanecendo Amapá, Roraima e Rondonia.
A
extinção do Territorio Federal do Amapá só se dará em 5 de outubro de 1988, com
a Constituição Cidadã que o transformou em mais um Estado membro da União.
Macapá vista aérea. Praça Floriano Peixoto