Se estivesse viva, completaria hoje 105 anos. Nascida
na cidade de Cruzeiro do Sul, no Território Federal do Acre, a 3 de outubro de
1913, IRACEMA CARVÃO NUNES viveu o suficiente para desempenhar um importante
papel no seio de sua família, na vida do esposo e de um povo sofrido que a
considerava um ser iluminado para cumprir importantes missões. Era filha do
comerciante e contabilista Joaquim Carvão e de sua esposa Auta Rodrigues Carvão
que geraram mais sete filhos: Alfredo, Mário, Silvio, Aluízio, Paulo, Irauta e
Alice Déa. Em busca de melhores condições de vida a família Carvão mudou-se
para Belém, onde faleceu a senhora Auta Rodrigues.
Na
condição de filha mais velha, Iracema auxiliou o pai na criação de seus irmãos.
Em 23 de julho de 1937, contraiu núpcias com o jovem oficial do Exército
Brasileiro, Janary Gentil Nunes, e o acompanhou em suas andanças pelo Paraná e
Clevelândia. O então capitão Janary Gentil Nunes comandava a 5º Companhia de
Metralhadoras Anti-Aérea, em pleno curso da II Guerra Mundial, quando o
Presidente da República, Getúlio Vargas, o nomeou para assumir o importante
cargo de governador do Território Federal do Amapá, criado no dia 13 de
setembro de 1943. Neste momento, Iracema Carvão Nunes já enfrentava sérios
problemas de saúde decorrentes de uma cardiopatia grave.
Tinha
uma menina ( Iracema Carvão Nunes) e um menino, Janary Carvão Nunes), nascidos
respectivamente em 1940 e 1943, tratados por parentes e amigos como Ceminha e
Janarizinho. A despeito dos contratempos enfrentados como esposa de militar,
sujeita a mudanças repentinas para lugares nem sempre dotados de conforto, Dona
Iracema mantinha-se fiel a seu papel de esposa e mãe extremosa. O Capitão
Janary Nunes chegou a Macapá na manhã do dia 25 de janeiro de 1944, para
instalar o governo do Território do Amapá. Ela, os filhos e a irmã mais nova,
Alice Déa, permaneceram em Belém, haja vista que em Macapá não existia sequer
uma casa condiga disponível para abrigá-los. O governador precisou mandar
construir uma casa de madeira próxima a Intendência Municipal, para depois
promover a vinda de sua família. O terreno onde o imóvel foi erguido pertencia
ao casal Otávio Acioli Ramos e Paula Loureiro Acioli Ramos, pais dos jovens
Aristeu e Avertino Ramos, atletas que defenderam brilhantemente as cores do
Esporte Clube Macapá e da Seleção Amapaense de Futebol.
No dia
1 de maio de 1944, viajando no Iate Itaguary, Dona Iracema, os filhos e a irmã,
desembarcaram no Trapiche major Eliezer Levy, em Macapá. Acostumada a ver
lugares degradados, Dona Iracema não estranhou a decadência da capital do
Amapá.
A fragilidade da sua saúde não a impediu de
expandir sua condição de mãe às pessoas carentes da pequena Macapá. Como esposa
do governador ela deveria dirigir a comissão Territorial da Legião Brasileira
de Assistência, entidade presidida a nível nacional pela senhora Darcy Sarmento
Vargas, esposa do presidente da República do Brasil, Dr. Getúlio Dorneles
Vargas.
A
instalação da LBA-Amapá deu-se no dia 18 de agosto de 1944. Numa terra onde
faltava tudo, a LBA iria implantar a Campanha de Redenção da Criança e os
programas Natal do Soldado e da Criança, auxílio às pessoas notadamente pobres
e às famílias dos reservistas convocados para a Força Expedicionária
Brasileira, construção de um posto de puericultura e permanente assistência, em
remédios, vestuários e alimentação às gestantes e crianças.
Tolerante
e compreensiva ouvia os que a procuravam e sempre agia com o interesse de ser
útil, desde que fosse para praticar o bem. Nunca distinguiu as pessoas pelo
brilho das jóias, pelo exibicionismo das ideias ou pela roupagem que vestiam.
Avessa à intriga, à maledicência, à crítica deprimente do alheio, teve
permanentemente ao seu lado amizades sinceras e definitivas. Recrutou como
valorosos aliados na implantação da LBA-Amapá os doutores Hildemar Pimentel
Maia, Odilardo Gonçalves da Silva, Salomão Moisés Levy, seu cunhado, doutora
Abelinha Valdez, Maria de Lourdes Dacier Lobato, Alice de Araújo Jucá, Olga
Montoril de Araújo, Irauta Carvão Levy e Lair do Couto Freitas. Instituiu com
as cinco últimas a Campanha da “Boa Vontade” visando patrocinar o Natal da
Criança Pobre.
Diariamente,
às 18 horas, Dona Iracema coordenava a distribuição de sopa às gestantes,
parturientes e crianças pobres. Mas qualquer pessoa desprovida de meios para
alimentar-se mais de uma vez por dia também era recebida com respeito e afeto.
Isso acontecia na residência governamental, porque a bondosa senhora andava
temerosa de que a saúde não lhe permitisse comparecer a lugares públicos. O
Natal de 1944 foi marcado pela primeira grande promoção da LBA. Além das
refeições próprias da época, as crianças receberam presentes. Em 1945, os
trabalhos de assistência social coordenados pela primeira dama seriam ainda
mais consagradores. Porém, às 20h30min do dia 23 de julho, uma segunda-feira, a
morte iniciou suas manobras para arrebatá-la do convívio dos seus entes
queridos e do povo amapaense.
Naquela
oportunidade ela e o governador completavam oito anos de casados, uma feliz
união firmada perante as leis de Deus no dia 23 de julho de 1937. A jovem
Iracema tinha então 24 anos de idade. Poucos meses antes de morrer, Dona
Iracema precisou ir ao Rio de Janeiro a fim de buscar melhoras para seu estado
de saúde. Retornou a Macapá depois de rigoroso tratamento e demonstrava muita
disposição para cumprir seus compromissos. Entretanto, no dia 19 de julho de
1945, quinta-feira, a cardiopatia voltou a importuná-la, deixando-a de cama.
Para
cúmulo da má sorte, um acesso palúdico veio embaraçar o trabalho de seu
dedicado médico, Dr. Cláudio Pastor Dacier Lobato. De Belém foi chamada às
pressas a cardiologista Maria do Carmo Sarmento de Carvalho, que passou a lhe
dar assistência médica. Às 21h30min do dia 23 de julho de 1945, um colapso que
para alguns dos que a assistiam até passou despercebido, ceifou a vida da
ilustre cidadã acreana. Ela viveu apenas 1 ano e 53 dias em solo macapaense.
Dia 3 de outubro de 1945 ela iria completar 32 anos de idade.
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